Departamento de Segurança Nacional dos EUA manda suspender monitoramento de jornalistas

Departamento de Segurança Nacional dos EUA manda suspender monitoramento de jornalistas
Foto: Liu Je / Xinhua

O secretário interino do Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Chad Wolf, ordenou, nesta sexta (31), a suspensão do monitoramento de jornalistas realizado pelo órgão -prática revelada nesta quinta (31), pelo jornal The Washington Post.

Segundo a reportagem, o departamento coletou informações e produziu relatórios de inteligência sobre profissionais que cobriam os protestos em Portland, onde forças federais foram enviadas pelo governo Trump para conter manifestações antirracistas e contra a violência policial.

Foram monitorados dois profissionais -um repórter do New York Times e o editor-chefe do blog Lawfare- que publicaram reportagens com documentos vazados sobre as operações do departamento na cidade.

Os relatórios de inteligência obtidos pelo The Washington Post incluem descrições e imagens de tuítes dos jornalistas e o número de vezes que foram curtidos ou compartilhados por outras pessoas.

Após a publicação da reportagem, o secretário interino do Departamento de Segurança Nacional, Chad Wolf, anunciou uma investigação sobre o caso.

"O secretário interino está comprometido em assegurar que os funcionários do Departamento de Segurança Nacional defendam os princípios de profissionalismo, imparcialidade, e respeito aos direitos e liberadades civis, particularmente em relação ao exercício dos direitos garantidos pela Primeira Emenda [da constituição]", afirmou um porta-voz do departamento.

Alguns dos documentos vazados e divulgados pelos jornalistas revelavam falhas no entendimento do departamento sobre a natureza dos protestos na cidade.

Um memorando revelado pelo New York Times conecta os confrontos na cidade ao histórico de anos de violência contra funcionários e instalações do governo por "anarquistas extremistas" na costa noroeste do país. No entanto, reconhece que há "baixa confiança" de que essa informação ajude a entender os protestos na capital do Oregon.

"Nos falta compreensão sobre os motivos para os ataques mais recentes", diz o documento.

Agentes na ativa e ex-agentes do departamento ouvidos pelo jornal, afirmam que o monitoramento dos jornalistas é um uso alarmante de um sistema do governo feito para compartilhar informações sobre suspeitos de terrorismo e indivíduos violentos.

Tuítes do editor-chefe do blog Lawfare mostravam um memorando de um agente de inteligência de alto nível afirmando que se baseavam em inteligência financeira e utilizavam cartões com as imagens de manifestantes presos para tentar entender suas motivações e planos.

Historicamente esses cartões são usados em dossiês de suspeitos de terrorismo, de acordo com o The Washington Post.

A ordem de suspensão do monitoramento acontece na primeira noite em que Portland não registra confrontos entre policiais e manifestantes.

A calmaria acontece após a substituição das forças federais por policiais estaduais na garantia da segurança do tribunal federal de Justiça, ponto focal dos confrontos entre manifestantes e agentes de segurança nas últimas semanas.

As substituição ocorre após um acordo entre a governadora do Oregon, Kate Brown, e o governo americano, realizado na quarta-feira (29), após um longo embate entre a Casa Branca e prefeitos e governadores do partido democrata que se opunham à presença das forças federais em suas cidades.

Nesta sexta (31), algumas centenas de pessoas protestaram ao redor do tribunal federal de Justiça, mas deixaram o local às 2h por livre e espontânea vontade, segundo a agência Reuters.

Os protestos contra o racismo e a violência policial em Portland, na Costa Oeste dos EUA, persistem diariamente desde o assassinato de George Floyd, em 25 de maio, em Minneapolis. Negro, ele foi sufocado pelo joelho de um policial branco por quase nove minutos.

A cena foi registrada por testemunhas, e os vídeos viralizaram na internet gerando reações em todo o país e no exterior.

Os movimentos começaram pacíficos, mas conforme se alastraram por várias cidades, houve inúmeros embates entre policiais e manifestantes, lojas foram incendiadas e saqueadas, e monumentos em homenagem a personagens históricos vinculados à escravidão e ao colonialismo foram vandalizados e derrubados.

Para tentar conter as manifestações e proteger instalações e monumentos federais, Trump enviou forças federais da ICE (Agência de Imigração e Alfândega, na sigla em inglês) e da CBP (Alfândega e Proteção de Fronteiras, em inglês) para Portland no início do mês, uma medida muito contestada por democratas e líderes de movimentos de direitos civis.

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