Guedismo, a religião que acredita que a nova CMPF é alternativa inteligente para o Brasil
por Fernando Duarte
Entre os tantos credos disponíveis no Brasil, o culto à figura de Paulo Guedes, ministro da Economia, é um dos mais intrigantes. Tanto quanto o bolsonarismo ou até mais, visto que os ultraliberais que seguem o "Chicago boy" são, em tese, mais letrados do que esse primeiro grupo. O novo dogma desse grupo é a CMPF rebatizada com um nome qualquer, para deleite de quem acreditava nos hiperbólicos planos de que em pouco tempo iria sair do "buraco que o PT nos colocou".
O novo velho imposto é a bola da vez, mas casado com a proposta de desoneração da folha de pagamento. Isso seduz o empresariado, flerta com a novidade, mas tende a ser mais do mesmo. Tanto que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, sinalizou que é um projeto que tende a ser rejeitado. O problema da pílula dourada é que nem sempre conseguimos enxergar que é placebo até tomá-la (e não estou falando da cloroquina dessa vez). Recriar uma tarifa sobre transação eletrônica em troca de reduzir o custo do emprego parece ser atraente, não? Não é. É mais um engodo que pode passar sem a verdadeira consciência do que está acontecendo.
Lembremo-nos que as reformas trabalhista e da previdência iriam transformar o país num grande celeiro com o mercado de trabalho superaquecido. Mesmo antes da pandemia, ninguém viu nada disso. No máximo uma precarização do emprego e os empresários iludidos de que era chegado o momento do crescimento desejado. Veio o coronavírus e a situação só acelerou a queda da cama e o fim do sonho perfeito. Paulo Guedes é um excelente gestor. Para o mercado privado. Para o setor público, é só mais um vendedor de ouro de tolos.
A CMPF, ou seja lá como forem chamar, vai voltar a fazer circular dinheiro em transações fora do sistema bancário. A classe média brasileira, que acha ser rica, vai seguir pagando o imposto. Os pobres, que foram obrigados a ingressar na formalidade dos bancos, também. Agora teremos um prato cheio para quem transaciona em dinheiro vivo. Será que as malas do bunker de Geddel Vieira Lima não estão vivas suficientemente na memória para saber que cifras milionárias estão fora das contas-correntes? Como se não bastasse, o Banco Central facilitou ao lançar a cédula de R$ 200. Bem menos volume para transportar nesse mercado paralelo dos reais ricos do país.
Porém eu preciso tomar cuidado. É sacrilégio falar da religião alheia. Para não ser acusado de ter ofendido o credo de outras pessoas, peço desculpas de antemão. Só não me peçam para acreditar que no fim do arco-íris de Paulo Guedes há um pote cheinho de ouro. Deixei de acreditar em contos de fadas quando passei a trabalhar com jornalismo político.