O Banco Mundial publicou um relatório com estimativas revisadas dos impactos que as mudanças climáticas devem causar nos índices mundiais de pobreza extrema até 2030. Os resultados são desoladores: com o aumento da vulnerabilidade climática, a previsão saltou de 122 para 132 milhões de pessoas afetadas. Para a organização, é considerada extrema pobreza viver com até 1,90 dólar por dia, o que equivale a pouco mais de R$ 10.
O estudo afirma que já é bem sabido que as mudanças climáticas afetam desproporcionalmente os mais pobres. Segundo ele, doenças devem levar, sozinhas, 44 milhões de pessoas à pobreza extrema, revisando o número original de 30 milhões publicado em 2020 pela organização.
A avaliação foi realizada em nível familiar, usando uma abordagem de baixo para cima: o estudo explorou os efeitos combinados do futuro desenvolvimento socioeconômico, levando em conta as mudanças nas condições climáticas e ambientais.
Preço dos alimentos aumenta desigualdade
Segundo o estudo, mesmo pessoas com renda mais alta podem sentir os impactos das mudanças climáticas no bolso, embora a alta nos preços dos alimentos afete mais as pessoas pobres ou que já vivem perto do nível de pobreza. A análise aponta que muitos nestes grupos gastam uma grande parte de sua renda com alimentos.
Também foi observado que mesmo nas regiões mais ricas, pessoas pobres que conseguem administrar o aumento nos preços dos alimentos podem ser afetadas, uma vez que o aumento nos preços reduz seu consumo real.
Impacto relacionado com a covid-19
O novo estudo também levou em conta como a covid-19 afetou os países mais pobres em 2020 e observou que os prováveis impactos de curto prazo das mudanças climáticas sobre a pobreza são da mesma ordem de magnitude que os impactos da covid-19: 71 a 100 milhões a mais de pessoas em extrema pobreza.
O relatório aponta que é preciso agir para proteger as pessoas afetadas pela covid-19. A ação é considerada urgente na busca por restabelecer a tendência histórica de erradicação da extrema pobreza – até 2018 as projeções eram de diminuição do número.
Os mais pobres pagam o preço mais alto
O jornalista Robert Davis, que cobre habitação, falta de moradia e pobreza em Denver, no Colorado, Estados Unidos, apontou, em conteúdo disponível em inglês no site Medium, o caso de Malawi, país africano. Lá, 63% da renda dos habitantes é gasta com alimentação e bebidas. Com o aumento dos preços, mais da metade da população está pobre e 25% em situação de extrema pobreza - segundo dados do Fundo Monetário Internacional - FMI.
No Brasil, segundo levantamento do IBGE feito em novembro de 2020, quase 52 milhões de pessoas vivem na pobreza e 13 milhões na pobreza extrema. Nos Estados Unidos, onde Davis vive, segundo o jornalista houve um aumento de 2,2% no número de pessoas sem casa: são 580 mil vivendo nas ruas.
O jornalista lembra ainda que a vida em locais que apresentam condições ruins de habitação – próximo a regiões industriais, por exemplo – leva ao convívio com condições ruins de sobrevivência, como ar poluído. Esse tipo de convívio, não raro, leva a doenças respiratórias severas que, por sua vez, podem levar o portador a um alto gasto com remédios e tratamentos, levando à pobreza extrema.