por Cláudia Cardozo
Investigações do Ministério Público Federal (MPF) revelaram que Luiz Carlos São Mateus cobrava valores de advogados das partes de processos julgados pelo juiz Sérgio Humberto de Quadros Sampaio. Segundo fontes do Bahia Notícias, tais informações foram possíveis de serem coletadas através da delação premiada em curso de um profissional da advocacia. O operador foi preso na manhã desta quinta-feira (17), em Barreiras (veja aqui).
O profissional era ligado ao empresário Walter Horita, que teria sido beneficiado com decisões do magistrado, preso desde a primeira fase da Operação Faroeste. A partir da colaboração premiada, foi possível gravar três encontros entre o profissional e o operador, em três datas: 8, 9 e de 10 de junho deste ano. Na ocasião, foram apresentadas ao profissional da advocacia duas cartas de crédito em soja, que têm por devedoras empresas do agronegócio. Uma das cartas garante o pagamento de 6.750 sacas de soja de 60kg. A outra carta garante o pagamento de 9 mil sacas, totalizando 15.750 sacas de soja. Atualmente, cada saca está avaliada em R$ 168,34. O total das sacas equivale a R$ 2,6 milhões.
Nos encontros, colaborador e operador negociaram um pagamento antecipado estimando cada saca em R$ 100, aproximando a dívida para R$ 1,5 milhão. Durante a conversa, Luiz São Mateus revela que os valores seriam destinados para o juiz Sérgio Humberto, mesmo ele estando preso. O valor seria para pagar dívidas do juiz, incluindo o aluguel da casa em que residia.
Na decisão que determinou a prisão temporária do operador, o ministro Og Fernandes considerou que Luiz Carlos São Mateus cometeu a prática de corrupção passiva em coautoria com o juiz preso, por estar cobrando e recebendo pagamento de valores por decisões judiciais em benefício do grupo Horita. Nas conversas, ficou revelado o vínculo entre Sergio Humberto e Luiz São Mateus.
No despacho, Og Fernandes pondera ao justificar a prisão do operador: “Se mesmo a deflagração de tantas fases ostensivas não está sendo suficiente para fazer cessar a mercância de decisões judiciais, a medida prisional cautelar se impõe como única alternativa até o julgamento final do processo”.
O nome de Luiz Carlos São Mateus ainda não havia aparecido nas primeiras fases da investigação da Faroeste. Mas com o aprofundamento das investigações, a Polícia Federal descobriu uma lista de Gilcy de Castro Dourado, oficial de Justiça que trabalhou junto a Sérgio Humberto. Nesta lista, aparecia nomes que seriam de interesse da desembargadora Ligia Ramos, também presa na Faroeste, em dezembro de 2020, na 7ª fase da operação. A lista indica:"Luiz São Mateus e Sérgio Humberto têm participação nessas terras". Luiz Carlos também foi gravado clandestinamente pelo delator Júlio Cesar Cavalcanti Ferreira em um diálogo com Sérgio Humberto, no interior de um veículo em um estacionamento de um shopping em Salvador, sobre o esquema criminoso.