‘Clamor’ por Jaques Wagner seria combinado para esconder ‘traição’ a Rui ou Otto?

 É incrível como a política é mutante. Até a última sexta-feira, o senador Jaques Wagner não apenas tinha comunicado a aliados a decisão de não mais ser candidato ao governo como já teria assumido participar da coordenação de campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na tentativa de voltar ao Palácio do Planalto. No final de semana, sobraram mobilizações de petistas “clamando” por Wagner candidato a governador e empurrando para o arranjo original, com Otto Alencar (PSD) buscando a reeleição. Esse esforço expõe a fragilidade da coesão do grupo e facilita a vida de ACM Neto (UB), caso o adversário saiba explorar essa crise.

Apesar da tentativa em imputar apenas a Rui Costa (PT) e seu desejo de ser candidato ao Senado essa desarrumação momentânea, tudo parece ter sido um jogo combinado dentro do Partido dos Trabalhadores – e sem conversar com os aliados. A comoção da militância por Wagner geraria o efeito desejado para uma campanha até então pouco empolgante e poderia gerar até mesmo um efeito “chapa dos sonhos”, na classificação de petistas: Wagner ao governo, Otto na vice e Rui senador. Porém a história de Otto não combina com esse enredo rocambolesco alimentado nos bastidores e que vem a público em pinceladas dadas por figuras que teriam ficado alheias aos debates.

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O “clamor” por Wagner explicaria a falta de publicidade da vontade do ex-governador. Ele pode até ter o desejo reprimido de não estar nas urnas, mas mantém, ainda que pequena, a chama acesa de que pode voltar a Ondina. Ao fazê-lo, opta por fazer sangrar a relação leal mantida com Otto. O socialdemocrata insiste ser candidato ao Senado. Contudo, pelo andar da carruagem, pode ser instado pela falta de apoio da militância a ir pelo caminho ideal para o petismo, ocupando a vaga de vice. É algo minúsculo para um homem com a envergadura política do senador. Admito, todavia, que não me surpreenderia se esse fosse o arranjo rascunhado desde sempre por esse jogo combinado entre Wagner e Rui.

Cabe saber como o grupo adversário vai se comportar diante da situação. ACM Neto tem elementos suficientes para atacar as fragilidades dessa aliança, benéfica mais ao PT do que aos aliados. Otto dificilmente trocaria de lado, mas não tê-lo de corpo e alma na campanha é um prejuízo difícil de mensurar. Caso seja alçado a candidato ao governo realmente, tendo se tornado vidraça para petardos do petismo, basta ACM Neto incluir essa falta de unidade governista em sua estratégia de campanha. Esses são alguns dos pontos possíveis de serem explorados.

Enquanto há essa mobilização pró-Wagner ao governo e anti-Rui no Senado, existe exposição da disputa fratricida e das contradições internas de um partido que tenta voltar ao Planalto simulando um grande acordo para “salvar o Brasil”. Sem arrumar a própria casa para receber os amigos, isso não teria consequências eleitorais? Vamos dar tempo ao tempo…

por por Fernando Duarte / Bahia Notícias


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