Guedes se diz preocupado com pressão inflacionária da guerra na Ucrânia

 O ministro Paulo Guedes (Economia) disse nesta segunda-feira (28) estar preocupado com a pressão inflacionária mundial em meio à invasão da Ucrânia pela Rússia.

"A Ucrânia é sobre grãos e a Rússia sobre fertilizantes, no que diz respeito ao Brasil. Nós estamos preocupados com a inflação mundial. É muito mais o impacto na economia global, porque estamos começando a nos recuperar da pandemia. Então, não é nada bom para o mundo", afirmou em inglês, em entrevista à Bloomberg TV.

"O mundo está em desaceleração sincronizada. A inflação está crescendo em todo o mundo, e isso poderia agravar o futuro da economia global", continuou.

Segundo Guedes, a inflação brasileira é fruto, sobretudo, da inflação global e comparou o indicador do país com o dos Estados Unidos. "Não há pressão inflacionária. A inflação no Brasil passou de 3% para 10%. A inflação nos Estados Unidos foi de 0% a 7%. Então, basicamente é inflação global, disse.

A prévia da inflação oficial no Brasil teve variação de 0,58% em janeiro e segue em dois dígitos no acumulado de 12 meses, com 10,20%, apontam dados do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15). Nos Estados Unidos, a inflação chegou a 7,5%, a maior alta em 40 anos.

O ministro da Economia também negou que haja pressão fiscal e ainda disse que o gasto social está dentro do teto. Segundo ele, a expectativa da equipe econômica é de queda na inflação e o Brasil pode novamente "surpreender para o positivo". "Estou mais preocupado com vocês", comentou.

"O FED [Federal Reserve] está bem atrás da curva, o BCE [Banco Central Europeu] também. Estou muito preocupado sobre vocês aqui, o FED está dormindo no volante e a inflação global está chegando", disse. Na opinião de Guedes, ambos estão atrasados no combate à inflação.

Guedes aproveitou o feriado de Carnaval para realizar contatos com bancos de investimento e investidores institucionais, em Nova York, nos Estados Unidos.

Ao ser questionado sobre a posição "neutra" do presidente Jair Bolsonaro sobre a guerra, o ministro ressaltou o posicionamento oficial do país.

"O Brasil, no Conselho de Segurança da ONU [Organização das Nações Unidas], votou duas vezes --e votaremos de novo-- condenando a invasão da Ucrânia. Ao dizer isso, nós desejamos que, de forma pacífica, a situação seja resolvida o mais rápido possível", declarou.

No domingo (27), o presidente Bolsonaro defendeu que o Brasil permaneça neutro no conflito. "Nós não podemos interferir. Nós queremos a paz, mas não podemos trazer consequências para cá", afirmou o presidente brasileiro durante entrevista coletiva em um hotel em Guarujá (SP).

Em discurso na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, nesta segunda-feira (28), o Brasil condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia. O embaixador Ronaldo Costa Filho pediu que os órgãos das Nações Unidas trabalhem conjuntamente em busca de soluções. "Estamos sob uma rápida escalada de tensões que pode colocar toda a humanidade em risco. Mas ainda temos tempo para parar isso."

No período da tarde, o Brasil voltou a criticar o risco de escalada de tensões em reunião do Conselho de Segurança.​ "As severas sanções podem trazer efeitos na economia global com consequências sentidas muito além da Rússia. Possivelmente, as populações nos países em desenvolvimento serão as que vão sofrer mais", disse João Genésio de Almeida Filho, representante permanente alterno do país na ONU.

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) 


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